Mas há algo de novo, e não são apenas as (supostas) rugas de Harrison Ford. O Indiana Jones do século XXI caminha por cenários que jamais existiram, luta com criaturas hipotéticas e, desafiando todas as leis da física e da biologia, apesar de sua idade, realiza acrobacias e movimentos que jamais havia feito quando mais jovem.
Se fazer com que o novo, e caça-níquel, filme do mais famoso arqueólogo do cinema fosse bom era algo tão improvável quanto impossível, Steven Spielberg vai além: ele conseguiu transformar Indiana Jones em uma ficção científica de segunda categoria, com reviravoltas de roteiro dignas de folhetim mexicano (concorrência para Caminhos do Coração?) e um roteiro que mal consegue se explicar, que caminha ora para a obviedade, ora para a total falta de senso.
É irônico que eu esteja postando isso agora, pois há alguns dias atrás eu estive prestes a comentar por aqui a falta de imaginação - e o descrédito cada vez maior desta - que impera em nossa modernidade. Sei que preciso aplaudir qualquer tentativa de criar algo diferente (ainda mais quando estamos falando de uma série de quase vinte anos atrás, que foi descaradamente copiada por uma tonelada de filmes). Com o advento da tecnologia gráfica, tornou-se muito mais fácil materializar tal imaginação - idéias como Star Wars ou O Senhor dos Anéis jamais teriam saído do papel sem a computação gráfica. Ao mesmo tempo, que hoje, com (muito) dinheiro, é possível se fazer de tudo - uma câmera na mão, uma idéia na cabeça, e um potente computador.
O cinema vira então uma corrida de quem consegue reunir mais frames animados num único filme. O excesso de uso de tal técnica, que eu já havia observado em 300 e no terceiro Piratas do Caribe, atinge nível jamais visto neste Indiana Jones. De um instante para o outro, perde-se totalmente a essência da série: se antes o personagem corria pelo deserto, e soltava piruetas por entre os tanques de guerra, é porque ele estava lá. Hoje Indiana Jones vai até à floresta amazônica sem sair de Los Angeles! Ele luta sobre jipes que nem acelerar conseguiriam, e é engolido por criaturas que não existem senão numa tela de computador.
E é isto que subitamente nossos filmes viraram: um espetaculoso festival de "olhe o que nós conseguimos fazer com nossas máquinas! Não é impressionante?" Os atores? Que atores? Se hoje eles já estão atuando no piloto automático, também nos livraremos deles quando pudermos.
Nos aproximamos, a cada temporada do verão norte-americano, aos limites mais obscuros do cinema. Um show de luzes, e explosões, e bundas falsificadas, e heróis falsificados, e mundos falsificados. Tal qual a tecnologia do qual é feito, este cinema também tem um limite. Qual será esse limite? Ou melhor: qual será o nosso limite (do público)? Até onde, até que sessão do cinema, estaremos dispostos a pagar por um jogo de videogame no qual não temos nem o direito de jogar - senão aceitar submissamente as explicações lançadas por uma dúzia de seres humanos plastificados?
Me sinto culpado. Justo eu que sempre tento ser tão progressista em relação à tecnologia e à ciência. Talvez eu seja mesmo um velho. Talvez eu esteja entre os que se identificam com a figura do Harrison Ford - a cada dia que passa envelhecendo mais e mais, de uma época onde filmes eram filmados e não modelados. Mas a nova e afoita geração está aí: estes já são o Shia LaBeouf (o filho do Indiana Jones no filme), uma geração que vê filmes com cenários fictícios, a geração que saiu do colégio e que só está preocupada com a sua moto, apenas por aí procurando uma aventura qualquer sobre alienígenas, e armas, e sangue.
Se fazer com que o novo, e caça-níquel, filme do mais famoso arqueólogo do cinema fosse bom era algo tão improvável quanto impossível, Steven Spielberg vai além: ele conseguiu transformar Indiana Jones em uma ficção científica de segunda categoria, com reviravoltas de roteiro dignas de folhetim mexicano (concorrência para Caminhos do Coração?) e um roteiro que mal consegue se explicar, que caminha ora para a obviedade, ora para a total falta de senso.
É irônico que eu esteja postando isso agora, pois há alguns dias atrás eu estive prestes a comentar por aqui a falta de imaginação - e o descrédito cada vez maior desta - que impera em nossa modernidade. Sei que preciso aplaudir qualquer tentativa de criar algo diferente (ainda mais quando estamos falando de uma série de quase vinte anos atrás, que foi descaradamente copiada por uma tonelada de filmes). Com o advento da tecnologia gráfica, tornou-se muito mais fácil materializar tal imaginação - idéias como Star Wars ou O Senhor dos Anéis jamais teriam saído do papel sem a computação gráfica. Ao mesmo tempo, que hoje, com (muito) dinheiro, é possível se fazer de tudo - uma câmera na mão, uma idéia na cabeça, e um potente computador.
O cinema vira então uma corrida de quem consegue reunir mais frames animados num único filme. O excesso de uso de tal técnica, que eu já havia observado em 300 e no terceiro Piratas do Caribe, atinge nível jamais visto neste Indiana Jones. De um instante para o outro, perde-se totalmente a essência da série: se antes o personagem corria pelo deserto, e soltava piruetas por entre os tanques de guerra, é porque ele estava lá. Hoje Indiana Jones vai até à floresta amazônica sem sair de Los Angeles! Ele luta sobre jipes que nem acelerar conseguiriam, e é engolido por criaturas que não existem senão numa tela de computador.
E é isto que subitamente nossos filmes viraram: um espetaculoso festival de "olhe o que nós conseguimos fazer com nossas máquinas! Não é impressionante?" Os atores? Que atores? Se hoje eles já estão atuando no piloto automático, também nos livraremos deles quando pudermos.
Nos aproximamos, a cada temporada do verão norte-americano, aos limites mais obscuros do cinema. Um show de luzes, e explosões, e bundas falsificadas, e heróis falsificados, e mundos falsificados. Tal qual a tecnologia do qual é feito, este cinema também tem um limite. Qual será esse limite? Ou melhor: qual será o nosso limite (do público)? Até onde, até que sessão do cinema, estaremos dispostos a pagar por um jogo de videogame no qual não temos nem o direito de jogar - senão aceitar submissamente as explicações lançadas por uma dúzia de seres humanos plastificados?
Me sinto culpado. Justo eu que sempre tento ser tão progressista em relação à tecnologia e à ciência. Talvez eu seja mesmo um velho. Talvez eu esteja entre os que se identificam com a figura do Harrison Ford - a cada dia que passa envelhecendo mais e mais, de uma época onde filmes eram filmados e não modelados. Mas a nova e afoita geração está aí: estes já são o Shia LaBeouf (o filho do Indiana Jones no filme), uma geração que vê filmes com cenários fictícios, a geração que saiu do colégio e que só está preocupada com a sua moto, apenas por aí procurando uma aventura qualquer sobre alienígenas, e armas, e sangue.