É noite e faz frio. Isso, porém, não impede que a alvoroçada multidão se reuna ali para apreciar aquele grotesco espetáculo de luz e som que apenas se forma à sua frente. Passam agitados, muitos gritam e alguns riem, mas não há nada de engraçado acontecendo por ali naquele momento. É uma risada abafada, quase culpada, acompanhada de um sorriso sádico e irônico e de um ignorante, mas satisfatório, sentimento de prazer.
Toda a energia acumulada durante a semana, durante o ano talvez, é usada e extravasada durante aquele momento ímpar. E olha que o espetáculo ainda nem começou. A platéia continua agitada, não parece se cansar e nem pára por um minuto. Ela é cada vez maior. Por entre as fileiras de homens, mulheres e crianças que esperam ansiosamente por aquele ritual sanguinolento, vendedores ambulantes passam para vender seus produtos.
Por hora se faz silêncio; noutras, a gritaria parece reinar. A baixaria, contudo, é uma constante durante todo o evento que prossegue noite e dia adentro. Homens da justiça são logo chamados para conter a euforia acumulada, mas estes também logo seu unem à platéia insana.
As portas finalmente se abrem e o show vai começar. A multidão corre ensandecida para pegar os melhores lugares do camarote. E, sim, finalmente, lá estão eles, os indivíduos que agora irão digladiar-se naquele antro de baixas intenções, até a morte talvez! Os seres mais baixos, sim, eles merecem passar por isso, ah, como eles merecem! O alvoroço do agrupamento ganha proporções épicas ao ver aquele duelo entre seres humanos de tão baixo nível, tão inferiores, que, se não conseguirem se matar entre si, serão mortos pela sociedade, pois todos que estão nela presentes têm o direito e o dever de eliminá-los de sua pacífica e perfeita convivência. Xingam, soltam incontáveis palavrões, se pudessem também pulariam e entrariam na batalha, com força e intensidade para matar - sim, eles vão matar - esses seres-humanos - ah, eles nem mais seres-humanos são, e a verdade é que nós somos tão melhores que eles.
Parece uma história de 251 a.C, mas é o que acaba de acontecer, e, pelo que me acomete, estamos no século XXI.
Toda a energia acumulada durante a semana, durante o ano talvez, é usada e extravasada durante aquele momento ímpar. E olha que o espetáculo ainda nem começou. A platéia continua agitada, não parece se cansar e nem pára por um minuto. Ela é cada vez maior. Por entre as fileiras de homens, mulheres e crianças que esperam ansiosamente por aquele ritual sanguinolento, vendedores ambulantes passam para vender seus produtos.
Por hora se faz silêncio; noutras, a gritaria parece reinar. A baixaria, contudo, é uma constante durante todo o evento que prossegue noite e dia adentro. Homens da justiça são logo chamados para conter a euforia acumulada, mas estes também logo seu unem à platéia insana.
As portas finalmente se abrem e o show vai começar. A multidão corre ensandecida para pegar os melhores lugares do camarote. E, sim, finalmente, lá estão eles, os indivíduos que agora irão digladiar-se naquele antro de baixas intenções, até a morte talvez! Os seres mais baixos, sim, eles merecem passar por isso, ah, como eles merecem! O alvoroço do agrupamento ganha proporções épicas ao ver aquele duelo entre seres humanos de tão baixo nível, tão inferiores, que, se não conseguirem se matar entre si, serão mortos pela sociedade, pois todos que estão nela presentes têm o direito e o dever de eliminá-los de sua pacífica e perfeita convivência. Xingam, soltam incontáveis palavrões, se pudessem também pulariam e entrariam na batalha, com força e intensidade para matar - sim, eles vão matar - esses seres-humanos - ah, eles nem mais seres-humanos são, e a verdade é que nós somos tão melhores que eles.
Parece uma história de 251 a.C, mas é o que acaba de acontecer, e, pelo que me acomete, estamos no século XXI.
Um comentário:
Felizmente ainda é revoltoso para todos a violência contra crianças.
E eu defendo a reação popular.
Ótimo texto.
(Não espalhe nada sobre a partida de futebol hauhau)
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